ESCAVAÇÃO
[instalação em dança]
uma dança que habita buracos, passagens, frestas – de paredes e memórias. um corpo que permanece e convida à permanência como experiência de estar. uma dança que se instala onde é suposto apenas passar. silenciosa. quase imperceptível. às vezes ruidosa. a dança de um lugar, de um corpo, e as memórias de lugares e corpos que dançam nela. um corpo que se modifica pela constante abertura de espaço no interior da dobra, da ruga, da fenda. um corpo que se dobra, entra, arqueia, atravessa, encrava, escava.
ficha técnica
criação e dança: sofia ó | acompanhamento: laura vainer | documentação fotográfica: olga miranda | apoio à criação: c.e.m - centro em movimento e centro nacional de cultura | realização: museu do aljube - resistência e liberdade.
histórico
escavação escuta no corpo o encontro com um espaço e as memórias que o habitam. É um convite à permanência.
Na zona dedicada aos vestígios arqueológicos no Museu do Aljube, apareceu como pergunta a dança que poderia dançar dentro dos buracos abertos nas paredes de tijolo. Demorei-me naquele espaço que foi, ao longo de séculos, habitado de presenças indesejadas, impróprias, disruptivas; um prédio que foi prisão e agora é museu, nuns buracos que foram ramais da rede de esgoto da velha cidade de Lisboa.
A permanência ali deu a ver memórias que atravessam e constituem o corpo em dança. Prisões, silenciamentos, escapes, esconderijos... o que segue pulsando sob camadas de sedimentos, o que insiste em permanecer a despeito das tentativas de mortificação.
A criação foi contemplada com a bolsa Jovem Criador 2018, concedida pelo Centro Nacional de Cultura (Portugal), acompanhada pelo c.e.m – centro em movimento, e apoiada pelo Museu do Aljube - Resistência e Liberdade. A convite do Museu, realizou-se uma abertura de processo em setembro de 2018, integrando a programação do Open House Lisboa. Em novembro, a realização de duas sessões da instalação no Museu foi articulada à apresentação da documentação do trabalho, na livraria Tigre de Papel, quando apresentamos o ensaio fotográfico de Olga Miranda e o caderno editado. Entre março e abril de 2019, foram realizadas mais seis sessões no Museu do Aljube, integradas também às visitas educativas.
No festival Pedras’19, do c.e.m – centro em movimento, escavação saiu do museu para encontrar a rua, nas escadinhas de São Cristóvão.